SOBRE O BLOG

Miscelânea intuitiva de gostos, sonhos, desejos, angústias, paixões e destemperamentos, e,porque não, de ódios, raivas e estresses... Miscelânea é assim: TEM DE TUDO!

Meu Diário de Bordo da solidão, meu painel de idéias e guia de entendimento, tudo misturado com humor, drama, terror, anti-corintianismo, sentimentos e doses homeopáticas de papo sério.

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

PLENITUDE

Era um dia estúpido, feriado estúpido, cidade estúpida, sexta-feira santa, quando resolvi sair.

Não tinha pra onde ir, pois como era feriadão, todo mundo havia ido a algum lugar, menos eu que, bocó, desisti de ir passá-lo em Sampa e resolvi ficar aqui. Motivo? Vai saber: não tomei o gardenal, minha coca-zero estava vencida, colocaram droga na minha água...


Enfim, fiquei. E eu sabia que seria um final de semana estúpido, no qual o estúpido mor era eu mesmo... Troféu JOÍNHA pra mim...


Fiquei. Bocó. Sem ter o que fazer, quando alguém me disse de um bar que havia aberto, ali na Governador, que de tão vagal nem nome tinha e estava sendo chamado de Clandestino...


-Que legal, pensei... Um bar chamado clandestino... Deve ser joínha... (estou sendo irônico...)


Na falta do que fazer, fui.


Lá chegando, meio dúzia de gatos pingados no local (fica a pergunta que não quer calar: de onde veio essa expressão? Por que não são cachorros pingados, pintassilgos pintados, e sim gatos?)


Filologias à parte, estava eu no bar, e sem outra opção, entrei.


Como o nome do bar dizia, ele era mesmo clandestino, mas poderia se chamar porãozão ou ruínas gregas, que daria no mesmo. Fiquei por ali, na entrada, observando, mirando, olhando, sempre em baixo do batente da porta (lugar mais seguro em caso de desabamento!), mas por mais que eu olhasse, por mais que mirasse, por mais que observasse, não conhecia ninguém naquele lugar, exceção feita a uma pessoa que eu achava chata demais, então fingi que não conhecia, ficando de costas para qualquer lugar no qual ele aparecesse (bem adulta minha tática...)


Meia noite, começou o show: uma bandinha de losers, que não tiveram dinheiro para ir viajar no feriadão e por isso ficaram trabalhando em Pira, começou a tocar algo que lembrava distantemente rock'n'roll. Eram comuns os comentários:


-Estão tocando Legião?


-Não, acho que é Pink Floyd...


Na verdade era Iron Maiden, mas não intervi na conversa, e, cá entre nós, era um Bruce Dickinson que lembrava o Renato Russo, com um quê de Roger Waters antes da dengue... No mínimo, diferente...


Agüentei o máximo que pude. Suportei estoicamente por longas duas músicas, mas quando começaram a surgir em minha mente idéias sombrias e macabras, como arrancar meu cinto e me enforcar no batente, resolvi sair do salão e respirar um ar menos fumacento. Aliás, ponha fumacento naquele ar: marginal Tietê não chega aos pés daquela fumaça palpável e algodoenta que imperava naquela sala. Na falta de O2 (sou um ser aeróbio), saí.


Saí e fui socado comum golpe do Tyson, uma voadora do Sakuraba, um arm-lock do Rickson Gracie... Saí e vi aquela menina lá no fundo, linda e linda, aqueles longos cabelos negros e soltos, aquele perfil meio grego, meio egípcio, meio malaio, meio mistura de culturas e raças e etnias, e aquela risada gostosa, solta no ar, que escapou no milimétrico instante em que pus os olhos naquela criatura que seria o centro de minhas atenções e meus desejos por aquela noite toda, e pelo resto da vida se eu tivesse coragem de olhá-la nos olhos...


As pessoas desapareceram do local, a fumaça tornou-se cheirosa, o ar estava leve, a banda aprendera a tocar: olhando para ela, sumiram-se os defeitos do mundo... Se Lula estivesse ali, saberia física quântica e a contar até dez nos dedos da mão, Barrichello seria campeão Mundial e Tiririca saberia cantar... Olhando para aquela menina, linda e linda, o mundo deixava de ser mundo e torna-se utópico, pacifico, fraternal...


E eu, parado no meio do corredor, atrapalhando o caminho de todas as pessoas que tentavam fugir daquela sala de som horrível, só me perguntava:


"QUEM É ELA? COMO CHEGO NELA?"


Estranho aquele dia.


Nunca acreditei em contos de fadas, em amor à primeira vista, em papai Noel nem em coelhinhos, e me percebi ali, boquiaberto, como se tivesse tomado uma machadada do cupido sem vergonha que não tinha trabalhado bem em minha vida até aquele instante.


"Respire fundo, respire fundo..."- pensei comigo mesmo.


"Feche a boca, feche a boca..." - pensei em seguida, percebendo meu queixo caído há tempos...


Comecei a andar em direção àquela mulher. Cada passo que eu dava, fingindo estar descontraído, fingindo estar apenas zapeando no local, com uma garrafa de cerveja na mão, cada minúsculo passo era seguido de turbilhões de coisas em minha cabeça, entre as quais eu ouvia, nitidamente:


-Help-me! Somebody help-me!


E a cada passo, mais e mais eu percebia aquela mulher, com sua morenice radiante, aqueles cabelos ao vento, e aqueles olhos que eu não havia percebido à distância, ah, aqueles olhos...


Entendi naquele instante o sofrimento de Bentinho ao olhar Capitu:


"Esses são os verdadeiros olhos machadianos... Olhos oblíquos..."


E quando o desespero já estava tomando conta de mim, quando as dúvidas me sufocavam o ser, quando não havia mais espaço para caminhar – ou falava com ela ou ia embora, rabo entre as pernas, loser, como os músicos daquela noite – quando tudo isso já me apertava a garganta, reconheci algo naqueles traços, e minha mente, rápida e faceira, pensou:


Oh, God! Eu conheço essa menina... De onde? De onde? De onde?


Quase 100 "de onde" depois, lembrei-me: ela já havia sido aluna de meu pai!


BINGO!


E reconhecendo isso, cheguei naquela mulher que me petrificara a alma no primeiro instante, no primeiro olhar...


Hoje estamos juntos há um ano. Noa –assim se chama meu amor – foi minha maior conquista, meu maior troféu, minha maior vitória, e tento repetir essa vitória diariamente, reconquistando-a, apaixonando-a, amando-a, e fazendo de tudo para sabê-la feliz.


Claro que nossa vida não é o mar de rosas nem o mar da tranqüilidade, somos humanos, cada qual com seus defeitos, defeitos esses que se chocam, se digladiam, para ver quem é mais defeituoso, mas ao mesmo tempo temos nossas qualidade, que se encaixam, se somam, se unem para formar algo maior e mais forte do que seriam sozinhas, e eis a nossa força primordial: Noa não é só minha namorada! É minha melhor amiga no mundo, aquela que posso contar quando estou feliz e dizer quando quero me jogar da ponte. Noa é minha companheira, com quem posso contar a todo instante que precise, pois sei que ela estará ali, ao meu lado, sempre, assim como eu estarei ali, ao seu lado, sempre... Minha parceira intelectual, com quem eu devaneio e ouço devanear, e planejo e construo, e foi em seus braços que descobri o que significa a palavra plenitude...


substantivo feminino


estado do que é inteiro, completo; totalidade, integridade




Meus ceticismos, minhas dúvidas, meus medos, esvaíram-se, perdidos em meio à fumaça que saía daquele salão de música com uma fumaça quase palpável e algodoenta, que ficava num bar que nem nome tinha de tão fajuto, num dia estúpido qualquer, que tornou-se um dia impar, numa noite impar, daquelas que sonho em contar para nossos filhos – meus e dela-, num dia em que perguntarem:


-Pai, como você conheceu a mãe?


E minha resposta será, com certeza:


-Conheci sua mãe num dia em que não sabia pra onde eu ia, não sabia onde eu estava, mas descobri exatamente onde eu ficaria: junto dela, pra sempre...


Um comentário:

Noa disse...

Amor, te amo demais! Achei lindo o texto. Nossa história é recheada de histórias e conseguimos passar muitas lombadas, mas estamos AQUI.
Você é uma pessoa muito importante para mim. Pessoa rara esta que amo: VOCÊ.
Meu fofinho lindo!