SOBRE O BLOG

Miscelânea intuitiva de gostos, sonhos, desejos, angústias, paixões e destemperamentos, e,porque não, de ódios, raivas e estresses... Miscelânea é assim: TEM DE TUDO!

Meu Diário de Bordo da solidão, meu painel de idéias e guia de entendimento, tudo misturado com humor, drama, terror, anti-corintianismo, sentimentos e doses homeopáticas de papo sério.

Chega junto, arruma um banquinho, senta aí e vem comigo!

Páginas

quinta-feira, 15 de abril de 2010

NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA 2

Quando criança, eu era tímido, daqueles que de tão tímidos acabam tornando-se um chato de galochas. Quem me conhece hoje não acha, mas é verdade... Depois, envelheci e perdi a vergonha...Reconheço: eu era um carinha chato, chato, chato, daqueles que temos vontade de jogar álcool e tacar fogo. Não, pensando bem, eu não era tão chato assim... Mais chato que eu era o Nielsen, o cara que contava as piores piadas da turma, que não tinha senso de humor nenhum e, para piorar, se achava um Ari Toledo... 
Pior que isso era somente o fato de que ele não conseguia ficar quieto e sempre soltava suas graças sem-graças... Deixemos o Nielsen em paz. Ele e suas piadas eram muito chatos para serem lembrados... Voltemos à minha timidez...

Sendo o segundo cara mais chato da minha classe, posso discorrer sobre o assunto com a preponderância que quem entende do assunto no qual discorre. Eu era adepto da teoria da conspiração, achava que todo o planeta conspirava contra mim e que tudo girava ao meu redor, só para expor-me, só para humilhar-me, mostrar-me ridículo. Minha adolescência foi pobre, paupérrima, e se não bastasse ser tímido, ainda tinha outros defeitos...  Andava mal-vestido. Além de mal-vestido, era o queridinho de muitas professoras. Em suma, tenho vergonha do meu ser... 


O fato de ser queridinho das professoras nunca me ajudou em nada, pelo contrário: sempre era um dos primeiros que eram chamados em tudo, desde correção de prova até chamada oral, e, convenhamos, não existe nada pior, para um tímido do que a maldita chamada oral...

Eu simplesmente abominava quando as professoras - CRETINA, ORDINÁRIA, CAFAJESTE E SEM-VERGONHA - com preguiça de corrigir nossas provas, obrigava-nos a, em frente à uma classe de quarenta crianças, dizer em voz alta algo que poderíamos simplesmente escrever em uma folha e não passar por tais constrangimentos. Faltava pouco para cagar-me todo naqueles instantes...

Chamada oral, para mim, era expor meu defeitos em praça pública. Era mostrar minhas roupas surradas, o cabelo descabelado, e gritar à platéia:

-Olha como eu sou decadente, pessoal!

Chamada oral, para mim, era a mesma coisa que ficar de cuecas na Praça da Sé... Cueca roxa, com bolinhas lilás e desenhos do ursinho Puff...

A professora de geografia, de química, de ciências, de física... Todas elas adoravam humilhar-nos na frente dos amigos. Mesmo quando respondíamos a matéria, dizendo o mesmo que estava no caderno, ainda assim elas insistiam em perguntas que nos obrigassem a errar e gaguejar e ficarmos roxos de vergonha... A única vantagem era o fato de que seria possível enrolar uma dessas professoras sabendo um pouco da matéria. Mas quando a matéria era português...

Professoras de português são fodas! As professoras mais velhas, que tanto expõe suas experiências didáticas aos mais novos, deviam ter vergonha! Nada no mundo pode comprometer mais o futuro de uma pessoa do que uma chamada oral de Língua Portuguesa. Se ler em voz alta na classe, só para ser zoado pelas gaguejadas, já era terrível, ter de decorar uma poesia do Gonçalves Dias era pior...
ODEIO GONÇALVES DIAS!

Por mim, nós, alunos indefesos, deveríamos fazer uma rebelião. Seqüestrar a professora, amarrá-la, amordaçá-la, colocar tachinhas na sua cadeira e obrigá-la, agora sim, a declamar todas as poesias de Camões, em latim!
Aliás, acabo de me lembrar que odeio poesia. Odeio os poetas, os leitores de poesias, os que publicam poesias, as pessoas poéticas e qualquer tipo de rima infantil, mesmo que seja a famosa “batatinha quando nasce...”, aliás, diga-se de passagem, a única poesia que sei na ponta da língua. Acabo de descobrir o motivo: as chamadas orais de português! 

Nunca eu tirava mais do que dois, em uma prova que valia dez! Sou péssimo em decorar qualquer coisa, incluso o número de meu próprio telefone, a data de nascimento de qualquer ser vivo e quando vence a conta telefônica...

Acredito que, pior que as chamadas orais que, freqüentemente, me infernizavam a vida, somente ter de usar bota de couro marrom, calça boca-de-sino verde-abacate e camisa com gola pontuda, tipo anos setenta, que era do meu pai, mas isso fica para outra crônica. Revoltei-me demais com meu passado para conseguir falar disso... Quem sabe, só por sacanagem, um dia desses não faça um poema...

4 comentários:

Michele Pupo disse...

Amigo
Estou aqui matutando... Parece que você já se recuperou dos traumas de infância, pois além de manter um blog (escrito em língua portuguesa e dirigido a falantes do mesmo idioma), ainda consegue "falar" sobre tudo que se passa em seu interior e em sua vida (Diário-virtual.)
Timidez? Cadê você? Eu vim aqui só para te ver! rs

Isso é bom!

Mas agora que já resolveu este problemminha,posso pedir-lhe um favor?
Pare de criticar o nosso BOM português e as nossas QUERIDAS (sofredoras) professoras. Ou então farei uma campanha para impedir a publicação de seus livros.rsrs
Como pessoa pública e influenciável que é, pode acabar instaurando uma guerra armada contra esta (nossa) categoria de profissionais. rsrs

Fala sério né?! Preferia quando escrevia sobre futebol! rs

Aguardo a revanche! (Adoro provocá-lo!rsrs)
Beijos e bom final de semana.

Flávia disse...

Li esse post hoje na hora do almoço e, na hora, concordei com vc.
Como não consegui fazer o comentário, tive a oportunidade de pensar melhor e, lembrando-me de minhas experiências de sala de aula (como aluna e depois como professora), acabei por discordar.
Não tenho recordações de professoras boazinhas- se é que eu tive alguma.
Me lembro das chatas de Geografia, que me obrigavam a fazer mapas enormes e veja vc no que acabei me tornando...a Socióloga professora de Geografia.
Tenho que confessar que nunca fui legal com meus alunos, mas eles me proporcionaram a mais linda homenagem que já recebi na vida.
Acho mesmo que são as carrascas que nos marcam pra sempre e nos fazem ser quem somos...


Beijos

Unknown disse...

A sim ...vc suprou com certeza, pois escreve com ortografia correta..sem falar do senso de humor e imaginação...
Só estou achando estranho o último post ter sido na quarta-feira...hj já é domingo...onde está vc???
Fugiu com Jesus???
rsrsrsr

Thalita Cunha disse...

Também sofri sendo a queridinha que apagava o quadro e era sempre a primeira a ser questionada sobre tudo hahahahhaha Mas tudo tem um lado bom, ... Conhecimento é poder hahahahahaa Vai dizer que os coleguinhas não "precisaram" (e muito) de você? Beijos e bom feriado!!!