SOBRE O BLOG

Miscelânea intuitiva de gostos, sonhos, desejos, angústias, paixões e destemperamentos, e,porque não, de ódios, raivas e estresses... Miscelânea é assim: TEM DE TUDO!

Meu Diário de Bordo da solidão, meu painel de idéias e guia de entendimento, tudo misturado com humor, drama, terror, anti-corintianismo, sentimentos e doses homeopáticas de papo sério.

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quarta-feira, 28 de maio de 2008

O ESSENCIAL É INVISÍVEL PARA OS OLHOS QUE NÃO SABEM VER...

Há horas estou parado, sentado em minha cadeira, pensando sobre minha vidinha besta... Penso e reflito sobre meu comportamento, sobre o que sou para outras pessoas, sobre o que as outras pessoas são para mim...
Será que sou alguma coisa para os outros?
Será que daqui cinqüenta anos alguém vai dizer meu nome e outra pessoa perguntará:
-Celso Aímola? Nunca ouvi falar... Existiu mesmo es-se cara? Quem foi?
-Ah, foi um amigo meu... Acho que já morreu, atrope-lado por um fusca sessenta e nove, ali na avenida Paulista... Ele era escritor...
-Escritor, para mim, só o Paulo Rabbit, e olha lá... Gosta do Paulo Rabbit?
-Ele é muito control C, control V para meu gosto... Lembro que o Celso o defendia, mas os outros amigos malhavam...

É muito bom pensarmos sobre nós mesmos. Se não fizermos isso vez ou outra, quem fará por nós?
Lembro-me de uma passagem, que aconteceu há muitos anos, quando perguntei para uma pessoa que era muito próxima de mim:

-O que você mais sentiria falta em mim, se eu morresse?

Ela pensou. Pensou muito. Seus olhos olhavam para meu rosto, para minha boca, seus dedos tocavam levemente em meus cabelos, olhos piscando vez ou outra. Havia um pequeno movimento de cabeça, do tipo que as pessoas fazem quando estão diante de uma equação matemática, prova final do ano, tudo ou nada, e se dá conta de que esqueceu a fórmula:

“Meu Deus... Pitágoras, Pitágoras... Pitágoras... A soma dos catetos é igual à soma do quadrado das hipotenusas... não, não é isso... O quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos... Mas isso é um triangulo! Não tem quadrado... Ai, meu Deus-pai... Eu sabia que deveria ter estudado mais geografia... Afinal, o que é cateto? Não é o cachorro do Fantasma? Pitágoras, Pitágoras... Não, o cachorro do Fantasma é Capeto... Pitágoras, Pitágoras... Qual é a área do quadrado? Faz dez mil anos que esse homem morreu e ainda me perguntam pela maldita área do quadrado... E essa tal de hipotenusa? Não entendo nada de mitologia grega.. Foi Perseu quem a matou? Meu Deus...”

Ela continuava me olhando com cara de dúvida. O olhar parecia perguntar-me:
“Mas o que deu em você? De onde tirou que eu sentiria falta de alguma coisa em você, seu verme, desprezível, presunçoso, arrogante, mesquinho, egoísta, mentiroso, prepotente, sacripantas, desleixado e fétido?” - mas ela não dizia nada. Somente aquele olhar, tipo “desprezo você mas não vou dizer” aparecia, quase palpável, em seu rosto.
Meu jeito inconveniente de ser (meu principal charme, depois do olhar quarenta e três) obrigou-me, mesmo vendo que ela estava em um mato sem cachorro, a repetir a pergunta:

-O que você mais sentiria falta em mim, se eu morresse? Ou se eu sumisse? Ou se eu fosse abduzido por alienígenas do espaço? (existem alienígenas que não são do espaço?) Se fosse arrastado por um tsunami gigante? Se eu fosse devorado por um tatu radioativo?

Ela continuava ali, com sua cara impassível, fria, insensível. Não dizia uma palavra, nem um som, nem um grunhido. Só me olhava.
Não esperava isso. Ser inócuo é ser nada. Ser irrelevante é ser nada. Ser insípido, inodoro, incolor, transparente, sem peso, é ser nada... Ela, olhando para mim, sem dizer nenhuma palavra, assinava uma confissão, dizendo que, para ela, eu era como vapor d’água... Tornei-me invisível... Tornei-me uma ficção. Tornei-me um grandessíssimo nada...
Nunca fui vapor para ninguém em minha vida (pelo menos, que eu saiba) nem ninguém me achava invisível até aquele dia. Queria que pelo menos ela tivesse dito que eu sou infesto, sou daninho, sou deletério... Infeccioso, lesivo, maléfico, maligno, mau, nocente, nocivo, ofensivo, pernicioso, prejudicial, ruinoso, fedido... Poderia até ter dito que eu sou burro, chato, irritante, petulante, agressivo, intrigante, Itamar Franco, chulezento... Fedido, bafudo, suvaquento, micosento, acéfalo... Mas não: ela não disse nada! Aliás, disse, mas sem palavras: através de seu silêncio, mostrou que não conseguia pensar em nada, que nada do que eu sou ou faço ou penso ou realizo ou sonho tem peso para serem insubstituíveis, pelo menos para ela.
Insubstituível... Napoleão, um de meus heróis do passado, disse que “de insubstituíveis, o cemitério está cheio”. Seria presunção minha querer ser insubstituível? Seria audácia ou arrogância achar-me importante, a ponto de que ninguém na rua, no bairro, na cidade, no estado, no país, no mundo, na galáxia, no universo, ninguém, nada, nunca, consiga moldar-se ao que somos, ao que pensamos e fazemos e realizamos? Será que o destino do ser humano é ser trocado feito um cartaz de um show que passou e depois da data, não serve mais? Seremos todos descartáveis?
Ver-me como alguém que se sumisse não faria falta fez-me observar melhor o que faço comigo mesmo. Conheço pessoas que sentiriam minha falta. Conheço pessoas que chorariam caso eu morresse. Conheço pessoas que sofreriam se eu morresse. Ao mesmo tempo, conheço pessoas que soltariam foguetes com meu sumiço, que fariam uma festa de gala, que sorririam, abririam um champanhe e diriam, baixinho, por vergonha, mas não tão baixo que não pudessem ser ouvidos:

-Já foi tarde, esse patife...-segurando-se para não pegar seu violão e tocar um samba-rock, sorrindo e bebendo, por minha morte.
Aquele olhar me transformou em um reles bocado de vapor d’água e abriu meus olhos. Pensei bem e vi o quanto a dona daqueles olhos que me olhavam com desdém estava errada. Olhei-me no espelho e olhei-me nos olhos. Vi quem eu realmente sou. Sou indispensável. Sou insubstituível. Sou o centro do universo. Sou grande, sou forte. Sou o senhor de tudo. Sou Deus. Indispensável para minha própria vida. Insubstituível para mim mesmo. Centro de meu próprio universo. Grande e forte como somente eu posso ser, pois só posso contar comigo mesmo... Senhor de tudo o que tenho e sonho, e Deus, pois são meus os dados que, vez ou outra, são jogados e que, ao azar dos jogos, mudam minha vida, mudam meu destino...
Tenho um milhão de defeitos. Tenho dois milhões de manias. Centenas de rabugices. Sou chato quando quero, e sei ser chato. Sou enjoado. Grito e ordeno e impero minhas idéias. Imponho-me, assim como Napoleão se impunha aos seus soldados. Acho-me diferente da turba que vive à minha volta, que trabalha e dorme e come e dorme e trabalha, esperando a morte, no final da linha do trem chamado VIDA...
Mesmo sendo assim, tão perverso, ninguém no mundo tem o direito de chamar-me de vapor d’água... Tenho, somados aos meus defeitos, qualidades que se sobrepõe a eles, basta olhar... Qualidades que todos têm e, às vezes, nem percebemos. Uma forma de pensar diferente, um carinho dado na hora certa, uma vontade grande em vencer e não deixar-se derrotar. Amor, incondicional e irrestrito dado para aqueles que o conquistam, para os pouquíssimos e escolhidos que o conquistaram... Desapego ao dinheiro ou à própria vida... Bom humor quando não é segunda-feira...
Saint-Exupéry disse no Pequeno Príncipe, que “o essencial é invisível para os olhos...” Poucas são as pessoas com qualidades reais para julgar outras pessoas. Antes de julgarmos, devemos saber nossas verdadeiras qualidades e pensar muito sobre nossos julgamentos... Será que temos os olhos para ver o invisível?
Pensando comigo mesmo, acalmei-me, deixando para trás aqueles tristes olhos verdes que me julgaram. Se me olham e nada vêem, é que não estão aptos a olhar o que podia oferecer, nem o que sou. Dizer que alguém não faria falta é o mesmo que dizer que esse alguém não existe e ninguém nesse mundo tem o poder de acabar com a existência de outra pessoa. Na verdade, quem provou-se como vapor d’água foi ela mesma, a dona daquele olhar...
Ao me olhar, da próxima vez, diga, ao menos, que sou letal e insalubre. Insalubridade é melhor do que o nada da não-existência e, pensando bem, há algo mais insalubre do que, olhando nos olhos de alguém, dizer que ele não representa nada?
E querem saber de uma coisa? Gostando ou não, sentindo minha falta ou não, achando-me único ou não, estarei aqui sempre, vivo, falando, criticando, porque tenho o direito de viver. Podem tentar me esconder e fazer de conta que não existo, mas não conseguirão, pois EXISTO!
Entender-me é tão simples quanto amar, mas pode, aos olhos do cego, ser tão complicado quanto uma fórmula de Pitágoras...

4 comentários:

Anônimo disse...

Fantástico! Você expressou o que eu me questiono muitas vezes. Também tenho certeza de que, bem ou mal, sempre consegui deixar minha marca na vida das pessoas. Pena que muitas delas passaram por mim como um nada e como nada continuam até hoje... Beijos!

Anônimo disse...

Não adianta, não consigo gostar do novo visual do blog... e que história é essa de deixar tudo branco????? A ilustração está linda, mas parece que não se encaixa direito como a outra... Será que é impressão minha?

Anônimo disse...

Ulalá!!Esse foi divino hein!Não que os outros sejam mais, ou menos, mas foi unico!
Parabens..

Anônimo disse...

Li seu texto e deu vontade de largar meu namorado quando perguntei a ele o que ele sentiria se eu sumisse e ele me olhou com cara de pitágoras...rsrsrs

Tô pensando em sumir mesmo...

Vc é o máximo, adoro tudo o que escreve...

Bjs