Sempre sou honesto e torno-me uma puta quando escrevo, arreganho-me todo e solto tudo o que aparece em minha cabeça, sejam idéias boas ou más, sejam engraçadas ou tristes. Vou morrer mesmo, por que guardar segredos?
Mesmo assim, arreganhando-me todo, acabo
Todos, sempre, temos um dia, um mês, um ano, uma hora ou um fato que gostaríamos de apagar, e eu também tenho os meus. Também tenho histórias que nunca contei e gostaria de esquecer, e hoje, comendo um danoninho que encontrei na geladeira, lembrei do meu dia que gostaria apagado...
Tinha seis anos. Fazia as compras de minha mãe e ia e vinha do supermercado três, quatro vezes, às vezes cinco idas e voltas seguidas, causadas por minha mãe, que por PUTA FALTA DE SACANAGEM nunca fazia uma lista de compras e devia ter um alzheimer embutido na memória...
Saía, chegava ao supermercado, comprava e assim que colocava os pés para dentro da porta da cozinha, minha mãe era atingida por um raio miraculoso, uma luz divina vinda dos céus, que a fazia lembrar de duas ou três coisas que ela havia esquecido antes. Lá ia o escravo Isauro de plantão, EU, voltar pelo mesmo caminho e comprar o que faltava. Chegando em casa, novo milagre, e adivinhem o que acontecia?
-Ai, meu filho... Esqueci o molho de tomate...
Sim, lá ia o pobre filho, mais uma vez, ao supermercado... Toca Celsinho ir de novo às compras...
Em geral, lá pela terceira viagem, meu pai, que observava a tudo quieto, ficava com pena do pobre escravo da casa e dava uns trocados a mais, para eu comprar um chocolate ou um danone ou uma bolacha, MAS, NESSE DIA, meu pai não estava em casa.
Na quarta ida ao supermercado, deu-me uma vontade louca de tomar um danone. Pedi a minha mãe, e ela, para mostrar sua descendência dos feitores de escravos da Zona da Mata, sabidamente os mais cruéis entre todos, respondeu ao meu pedido com uma única palavra:
-NÃO!!!!- com todos os quatro pontos de exclamação.
Fiquei bravo, muito bravo, pois quatro idas ao mercado e nem um danoninho?
Entrei no supermercado e fiz as malditas compras mas, antes de passar pelo caixa, resolvi, ao menos, olhar os danones...
Havia muitos. Os de morango, os de tomar, os iogurtes... Mas haviam alguns com a tampa estourada, do tipo que alguém esticou o dedo indicador e “tuf”, furou a tampinha, lambendo o dedo e saindo feliz, com seu gostinho de iogurte na boca.
Vi aquilo e, na mesma hora, o outro ser que habita em mim disse:
-Vai lá, seu tonto... Você merece! Além do mais, tanta gente já fez isso!!!
Como não tenho anjo e sim um outro Celso que se hospeda em meu corpo, pensei que ele estivesse certo. Estiquei meu indicador e andei até a geladeira de danones... Pé-ante-pé, chego à geladeira e ouço-o confirmando:
-Taca o dedo!
Obedeço. Furei a tampa do danone e lambi, prazerosamente, o meu dedo. Vitória. Glória.
Após saciar a minha sede de conquistas, segui, com a cara mais lavada do mundo, até o caixa.
Enquanto passava as compras de minha mãe, veio um senhor grandão (ou eu que era pequeno?), segurando-me pelo braço, dizendo em alto e bom tom:
-Bonito, né, moleque!!
-Obrigado, mas até que eu estou mal vestido hoje... – respondi.
Ele me arrastou pelo braço até a geladeira de danones, pegou o que eu havia acabado de furar e disse:
-Vai pagar ou quer que eu chame seu pai aqui?
O meu maldito outro “eu” ficou quieto. Ele não entendia nada de crimes e esqueceu de mandar-me olhar para os lados. Procurei-o em minha mente para descobrir o que diria, qual a melhor resposta para dar ao grandão, mas neca de pitibiribas!
Paguei o danone e saí do supermercado com a cabeça baixa. Meu primeiro e único crime havia sido descoberto. Voltei até minha casa triste, mas comendo o danone, que fui obrigado a pagar, o mesmo danone que quase me pôs atrás das grades...
Vergonha!
Tive meu dia de criminoso. Podia ter-me tornado o Celsinho Beira Rio, o rei do roubo de cargas de danones, mas fui pego e nunca mais repeti meu crime.
Mas, cá entre nós, por ter ido quatro vezes ao supermercado, eu bem que merecia um danoninho de minha mãe, a carrasca...
É por isso que existem tantas crianças que crescem, revoltadas por aí... Começam com um danoninho, e no final da vida, atrás das grades, descobrem o que eu descobri muito cedo em minha vida:
“O crime não compensa!”.
Em geral, lá pela terceira viagem, meu pai, que observava a tudo quieto, ficava com pena do pobre escravo da casa e dava uns trocados a mais, para eu comprar um chocolate ou um danone ou uma bolacha, MAS, NESSE DIA, meu pai não estava em casa.
Na quarta ida ao supermercado, deu-me uma vontade louca de tomar um danone. Pedi a minha mãe, e ela, para mostrar sua descendência dos feitores de escravos da Zona da Mata, sabidamente os mais cruéis entre todos, respondeu ao meu pedido com uma única palavra:
-NÃO!!!!- com todos os quatro pontos de exclamação.
Fiquei bravo, muito bravo, pois quatro idas ao mercado e nem um danoninho?
Entrei no supermercado e fiz as malditas compras mas, antes de passar pelo caixa, resolvi, ao menos, olhar os danones...
Havia muitos. Os de morango, os de tomar, os iogurtes... Mas haviam alguns com a tampa estourada, do tipo que alguém esticou o dedo indicador e “tuf”, furou a tampinha, lambendo o dedo e saindo feliz, com seu gostinho de iogurte na boca.
Vi aquilo e, na mesma hora, o outro ser que habita em mim disse:
-Vai lá, seu tonto... Você merece! Além do mais, tanta gente já fez isso!!!
Como não tenho anjo e sim um outro Celso que se hospeda em meu corpo, pensei que ele estivesse certo. Estiquei meu indicador e andei até a geladeira de danones... Pé-ante-pé, chego à geladeira e ouço-o confirmando:
-Taca o dedo!
Obedeço. Furei a tampa do danone e lambi, prazerosamente, o meu dedo. Vitória. Glória.
Após saciar a minha sede de conquistas, segui, com a cara mais lavada do mundo, até o caixa.
Enquanto passava as compras de minha mãe, veio um senhor grandão (ou eu que era pequeno?), segurando-me pelo braço, dizendo em alto e bom tom:
-Bonito, né, moleque!!
-Obrigado, mas até que eu estou mal vestido hoje... – respondi.
Ele me arrastou pelo braço até a geladeira de danones, pegou o que eu havia acabado de furar e disse:
-Vai pagar ou quer que eu chame seu pai aqui?
O meu maldito outro “eu” ficou quieto. Ele não entendia nada de crimes e esqueceu de mandar-me olhar para os lados. Procurei-o em minha mente para descobrir o que diria, qual a melhor resposta para dar ao grandão, mas neca de pitibiribas!
Paguei o danone e saí do supermercado com a cabeça baixa. Meu primeiro e único crime havia sido descoberto. Voltei até minha casa triste, mas comendo o danone, que fui obrigado a pagar, o mesmo danone que quase me pôs atrás das grades...
Vergonha!
Tive meu dia de criminoso. Podia ter-me tornado o Celsinho Beira Rio, o rei do roubo de cargas de danones, mas fui pego e nunca mais repeti meu crime.
Mas, cá entre nós, por ter ido quatro vezes ao supermercado, eu bem que merecia um danoninho de minha mãe, a carrasca...
É por isso que existem tantas crianças que crescem, revoltadas por aí... Começam com um danoninho, e no final da vida, atrás das grades, descobrem o que eu descobri muito cedo em minha vida:
“O crime não compensa!”.
4 comentários:
Ahhhhhhhh! Agora sim! Este é o modo de escrever tão particular que me cativou quando conheci o seu blog.
Estava sentindo falta de "leveza" aqui no diário. Você andava muito azedo. rs
Abraços sempre polêmicos, mas verdadeiros. rs
hahahhaa adorei!!!
tipo de texto q a gente mal nota, e já leu tudo....
Coitadinho, nem um danoninho????
MInha mãe tbem sempre me dizia não, mas agora que cresci, tomo todos os danoninhos que tenho vontade.
Você só esqueceu de contar o que sua mãe fez ao ver resultado do crime quando chegou em casa...
Bjs
É....e a JUSTIÇA foi feita, rs!
Aqui se faz...aqui se PAGA!
Você tem que realmente contar a parte 2 dessa história: a reação dos pais, eheh!
O pai defendeu o furo no danoninho e a mãe do outro lado surtando?
Que fim deu isso?
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