SOBRE O BLOG

Miscelânea intuitiva de gostos, sonhos, desejos, angústias, paixões e destemperamentos, e,porque não, de ódios, raivas e estresses... Miscelânea é assim: TEM DE TUDO!

Meu Diário de Bordo da solidão, meu painel de idéias e guia de entendimento, tudo misturado com humor, drama, terror, anti-corintianismo, sentimentos e doses homeopáticas de papo sério.

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

ESCREVER


Não sei se escritor nasce feito ou faz-se depois de nascer. Gosto de escrever, mas não sei se isso é ser escritor. Ser escritor é mais do que escrever: escritor tem de ter talento...


Não sei se tenho talento. Tenho minhas dúvidas e não sei se consigo fazer com que as pessoas entendam o que eu digo, se consigo fazê-las rir e chorar quando eu rio e choro em meus textos. Choro mais do que rio, mas às vezes não suporto meu bom humor...


Daqui a quarenta anos, se ainda estiver vivo até lá, quem sabe, saberei a resposta para minhas dúvidas...


Existem pessoas que acham que escrevo bem. Pena que minha mãe e minha irmã não contam... Fora elas, existem outras que dizem a mesma coisa, pessoas que gostam do que lêem quando lhes empresto um texto novo, recém-saído da impressora. Dizem, em alto e bom tom, que eu dou para um bom escritor. Mentira! Mantenho-me heterossexual convicto, sem nenhuma sombra de dúvidas. Apenas gosto de escrever, e vou seguindo meu caminho, linha após linha, palavra após palavra... Trabalho com afinco em meus livros (MEUS livros... Quem lê imagina que esteja em meu 43º volume!) e em minhas crônicas. Saio da rotina e sinto-me feliz. Sinto-me alguém quando escrevo meus textos, e sentir-se alguém é mais do que podemos sonhar e desejar em nossa curta vidinha...


Escrever me aproxima de Deus. Eu sou o Deus dos meus textos. Mando, ordeno, mato, crio as doenças, mutilo os personagens, dou-lhe filhos, faço-os carecas, coloco-os morando junto às suas sogras, enfim, torno suas vidas um inferno, se eu quiser... Aqui, em meus textos, meus domínios, quem manda sou eu!


Lógico que a criação tem seus limites. Uso as doenças, descrevo as mortes, conto as tragédias, mas não fui eu quem as inventou primeiro. Apenas utilizo o que vejo no mundo, quando olho ao meu lado, quando ligo a tv... Gostaria de escrever comédias, mas às vezes fica tão difícil rir com as coisas que vemos por aí...



Quanto a minha implicância com as sogras, bem, acredito que Deus sabia o que estava fazendo quando as criou... Eu uso somente o que vejo, e o que vejo são sogras más, fora uma que tive, mas isso é outra história... E mesmo Deus, às vezes faz coisas meio sem sentido. Malditas baratas, pernilongos, raízes de dente...


Quando mato um personagem, em meu texto, suicido-me um pouquinho, porque não consigo escrever um personagem que não tenha um pouco de mim. No fundo, sou um grande masoquista! Gosto de sofrer, das reviravoltas que o mundo dá, de gente questionando o "porque" de se estar vivo. Eu questiono, e junto comigo, meus personagens também o fazem. Quem sabe um dia eles não descobrem e me contam o segredo que tanto procuro?


Sinto-me o senhor feudal de um grande latifúndio. Meu texto é o meu feudo.


Escrevo ou deixo de escrever quando tenho vontade. Mudo, pulo, transformo os personagens no que eu quiser, e é isso que torna mágico o ato de escrever. Os encaixes, as entradas que ninguém espera, essa alquimia que transforma bons textos em ótimos textos. Esses desmandos que dou a toda hora...


Às vezes, esses desmandos fazem com que eu perca tudo o que escrevi, fazem com que estrague um bom texto, mas esse é um risco que devo correr... Não há fórmula para ser escritor!


Não sei se vou lançar livros, tornar-me um mago, ser imortal... Posso não vender dois milhões de cópias, posso não vender cem cópias, posso nem ao menos ser publicado... Podem descobrir o meu talento depois de eu morto e enterrado... Isso é tão comum... Posso, também, tenho de reconhecer isso, por mais que me doa, não ter talento algum...


A vida imita a arte, e como nos livros, nas novelas, talvez eu tenha nascido com o dom para escrever, mas talvez, tenho de admitir isso, eu não passe de uma fraude.


Talvez você esteja perdendo tempo lendo essa fraude, eu esteja perdendo tempo escrevendo que sou uma fraude. Talvez esteja perdendo minha juventude vivendo essa fraude. Como já disse, sou masoquista. Eu mesmo me desmascarei. Ou não. Difícil saber.


Mesmo na dúvida, prefiro continuar em meu mundo de faz de conta, onde somente minhas opiniões valem, onde eu brinco de Deus, onde o mundo real não conta. Talvez, aqui em meu mundinho, eu faça as pazes com Deus, pois aqui eu sou Deus, e aqui eu tento entendê-lo. Não enxergo lógica em muitas coisas por aí...


Em meu mundo, pelo menos há uma lógica, mesmo que seja a minha... Quando mato alguém, tenho um motivo claro para fazê-lo. Não o quero ao meu lado no céu. Quero promover uma ação, que desencadeie uma reação em determinado personagem. Meus personagens são as minhas grandes cobaias e, eu, o cientista louco dentro de um laboratório, fazendo as mais terríveis experiências com os infelizes que nasceram de mim. Lógico que nem sempre minhas cobaias acabam mal. Em meu mundo, meus personagens têm alguma chance de acabarem bem e felizes, dependendo de meu humor. Alguém lembra como morreu Robinson Crusoé? Ele não morreu. Ele é eterno. Daniel Defoe não o matou, e ele vive para sempre em seus livros, desde 1600 e alguma coisa...


Quero os meus Robinsons vivos, para sempre. Mesmo que eu os mate no papel. Mesmo que sejam medíocres. Melhor a mediocridade do que a morte eterna!


Só espero alguém me citar em 2114...

Um comentário:

***palominha***p girl disse...

BOM EU ACHO, QUE SÓ A DÚVIDA SOBRE SABER SE TEMOS ALGUMA TALENTO PARA ESCREVER, JÁ SIGNIFICA ALGO, AFINAL OS NOSSOS MELHORES CRITICOS SOMOS NÓS MESMOS, QUE ESCREVEMOS UMA COISA 1001 VEZES ANTES DE PUBLICAR, COMO EU TAMBEM O FAÇO, GOSTARIA DE DIZER QUE GOSTEI DO SEU ARTIGO, MAS NÃO LI ATÉ O FINAL POR SER MUITO EXTENSO (KKKK) FOI MAL, MAIS MESMO ASSIM GOSTEI DO QUE LI!! OBRIGADA