SOBRE O BLOG

Miscelânea intuitiva de gostos, sonhos, desejos, angústias, paixões e destemperamentos, e,porque não, de ódios, raivas e estresses... Miscelânea é assim: TEM DE TUDO!

Meu Diário de Bordo da solidão, meu painel de idéias e guia de entendimento, tudo misturado com humor, drama, terror, anti-corintianismo, sentimentos e doses homeopáticas de papo sério.

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domingo, 20 de fevereiro de 2011

BELEZA RELATIVA

Maria se achava uma mulher bonita. Não era assim “boniiiiiiiita”, mas realmente era o que os homens diziam que não era de se jogar fora.
            Mesmo assim, Maria tinha alguns problemas que considerava insuportáveis, e entre eles, o fato de sua irmã mais nova, Marta, ser muito mais bonita que ela.
            Maria se matava na academia, não comia mais que um pé-de-alface durante o dia, não bebia, não fumava, dormia oito horas por noite, cuidava do rosto quando acordava, na hora do almoço e quando ia dormir, gastava metade do salário com salões de beleza e cabeleireiros e academias, ia duas vezes por semana na manicure, mas nada adiantava: Marta bebia feito uma vaca, fumava feito um gambá, gandaiava todas as noites, cuidava ela mesma dos cabelos e mesmo assim batia Maria em qualquer escala de beleza em que se medissem. Até o dedinho mindinho do pé esquerdo de Marta era mais bonito que o de Maria!
            Não podemos dizer que Maria tinha ciúmes de Marta a ponto de querer matá-la e jogar o corpo no rio Tietê, mas aquilo de ter uma desleixada em casa, que sem o menor esforço ganhava elogios de seus pais e amigos, aquilo era a morte para Maria, mas irmã era irmã, foi Deus quem quis assim, então, vivamos nossas vidas, pensava ela.
            Um dia, saíram as duas para uma choperia da moda. Era uma sexta-feira quente, daquelas típicas do verão, e o local estava lotado.
            Marta estava ansiosa pelos torpedinhos que sempre recebia quando saíam, enquanto Maria dizia pra si mesma que não iria se importar se não recebesse nenhum, afinal aquela criatura era sua irmã e irmã é irmã!
            Já sentadas e instaladas na mesa, eis que chega o homem mais bonito do pedaço: Marcelão, que era amigo das duas e logo vai para a mesa delas, onde começam um longo papo, contando as novidades, contanto os babados novos, como anda a vida, o preço do arroz...
            Marta já dava como favas contadas que aquela noite passaria nos braços de Marcelão, pois ele já estava acomodado na mesa das irmãs e nada fazia parecer que iria sair de lá. Maria participava da conversa com distância, falando hora sim, outra não, pois também pensava a mesma coisa:
            “Marcelão está a fim de minha irmã e eu aqui segurando vela...”
            Enquanto a conversa prosseguia, Marta pediu licença para ir ao banheiro e saiu, deixando Maria sozinha com Marcelão, que aproveitou a deixa e começou a falar:
            -E então, Maria, como anda a vida?
            Maria pensou:
            “Pronto: lá vem ele pedir pra que eu chegue na minha irmã...”
            -Está bem, Marcelo... Tudo muito bem...
            -Então... Eu estava esperando sua irmã sair pra lhe pedir uma coisa...
            “Pronto... Lá vem ele pedir pra que eu fale com ela...”
            -Fale, Marcelo... Pode pedir...- respondeu uma Maria sem muito ânimo.
            -Topas ir ao cinema comigo amanhã?
            Maria arregalou os olhos: o convite era pra ela, não para a irmã! O sujeito mais lindo da mesa, do bar, do bairro, da cidade, quiçá do planeta, estava ali chamando-a pra ir ao cinema amanhã! Ela não acreditava:
            -Como, Marcelo?-perguntou, para ter certeza do que ouvira.
            -Topas ir ao cinema comigo, amanhã?-repetiu Marcelo, olhando-a nos olhos, com car de cachorro pidão.
            -Claro que topo, Marcelo!
            -Então combinado... Amanhã à noite passo na sua casa e te pego, lá pelas sete, pode ser?
            -Pode, claro que pode...-respondeu uma sorridente Maria, totalmente diferente daquela que estava sentada à mesa até há poucos minutos.
            -Bom, então vou indo, que já está tarde... –e dizendo isso, levantou-se e deu um beijo gostoso na face de Maria, que retribuiu com outro, igualmente estalado.
            Enquanto Marcelo ia embora, Maria pensava, sorrindo sozinha:
            “O que será que deu nele? Pensei que estava a fim de minha irmã...”
            E Marcelo pensava consigo mesmo:
            “Bacana essa Maria... Além de bonita, é simpática... Tão diferente da irmã, que é vulgar e se acha a última bolacha do pacote...”
            A beleza, como tudo na vida, é a mais relativa das virtudes.

Um comentário:

Michele Pupo disse...

Ora, vejam só! Quem esta vivo, dia ou outro dá o ar da graça!
Bom te ver ressuscitando o coitado do Diário.
Gostei da crônica de reestréia.Senti falta dos seus textos.

Um abraço