São três e tanto da manhã.
Acabo de ter um pesadelo.
Não sou de pesadelos. Em geral, mais os causo do que os tenho, mas
hoje eu tive...
No sonho, eu estava em casa, com meu pai. Nunca, nunca sonho com ele,
o que faz o sonho ser mais estranho ainda...
Não sei que casa era, uma das tantas em que moramos, mais uma mescla
de uma com outra com todas...
Não vi minha mãe por lá, mas a presença de meu pai era forte e
constante. Sentia-o, via suas roupas espalhadas no quarto, ouvia sua
presença na sala de visitas...
Pouco depois, estávamos sentados em sua cama, em seu quarto. Tivemos
uma leve discussão, por causa de meu irmão (novidade!), mas ficamos na
boa.
Fui dormir e, durante o sono, meio que acordo, meio que durmo, e vejo
uma mão acendendo a luz de meu quarto. Sei que é algo ruim, sei que
algo terrível está para acontecer, e tento gritar. O grito não sai,
sei que meu pai me salvaria do perigo, mas não consigo chamá-lo. O
pânico vai subindo, meu coração dispara, mais e mais tenho medo, e
acordo, sem saber aonde estou, e o grito, agora, sai forte...
Demoro a saber aonde estou: estarei em Marília? Em Dracena? Em Assis?
Em casa? Qual casa? São Paulo? Piracicaba? Aonde está meu pai?
Essa confusão mental durou alguns instantes, e aos poucos vou
percebendo meu quarto, minha cama, sei aonde estou... E percebo,
triste, que não adianta gritar, aqui não tem ninguém... Nunca tem
ninguém, por mais que eu grite...
E tento voltar a dormir, sabendo o quão só estou, o som de meu próprio
grito ressoando ainda em minha cabeça, e a certeza absoluta de que, se
fosse simples, acabaria o jogo aqui.
--
Enviado do meu celular
"Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: Dar voltas.''
JOSÉ SARAMAGO
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